quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Ouve a sirene e fica doente por estar "fora de combate"

Aos 84 anos, Rogério Reis ainda participa na formação de bombeiritos ou infantes (6-12 anos) e cadetes (14-18) da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Nelas. Não abdica de transmitir às novas gerações, "enquanto tiver forças", toda a experiência "conquistada a pulso" durante mais de meio século de voluntariado nos "Soldados da Paz".

Racional mas sensível, não esconde, no entanto, o quanto lhe custa estar afastado, por via do "peso da idade", do "teatro de operações" por onde andou durante 52 anos de entrega à causa dos bombeiros.

"Quando estou em casa e ouço a sirene tocar, fico doente por não poder correr para o quartel e saltar para os carros de fogo. As pernas já não me deixam fazer isso", reconhece com o olhar marcado por indisfarçável tristeza.

Não é para menos. Rogério Neves dos Reis, de seu nome completo, nasceu na vila de Nelas, em 4 de Abril de 1924. Quatro anos antes, o pai, João Neves dos Reis, fundava, com outros, a AHBVN.

"A minha vida confunde-se com os bombeiros", diz. Confessa, no entanto, que o "verdadeiro chamamento" aconteceu em Angola. País onde viveu e trabalhou na construção civil (1952-1975) e onde ajudou a fundar uma corporação de bombeiros em Sá da Bandeira, na província de Huíla.

"Ajudar os outros é uma missão. Fazê-lo a troco de nada, com voluntarismo e entrega total, é um valor que a sociedade actual deve preservar a todo o custo", afirma lapidar o homem que acumula louvores, troféus e que exibe no peito, orgulhoso, o crachá de ouro da Liga de Bombeiros Portugueses recebido, a 24 de Junho deste ano, das mãos do presidente Duarte Caldeira.

"Não fiz nada. Limitei-me, ao longo da vida, a estar disponível para ajudar os outros. É essa a mensagem que procuro transmitir aos jovens que aderem ao voluntariado", revela com humildade.

O "nada" de Rogério Reis é grandioso nos pequenos e nos grandes acontecimentos com os quais se cruzou enquanto bombeiro. Em 1969, por exemplo, a Sociedade Angolana Protectora dos Animais reconheceu a coragem do homem que subiu a uma palmeira, de 15 metros, para salvar um gato. Em 1995, com outros colegas, correu risco de vida para proteger uma viatura dos Bombeiros de Nelas.

Em Setembro de 1985, esteve três dias sem ir a casa, com outros companheiros, para acudir as vítimas do acidente ferroviário de Alcafache. "Nunca esquecerei".

Fonte Jornal Noticias
TERESA CARDOSO

Nota: O caso do Bombeiro Rogério Reis é o caso de muitos bombeiros no país, onde a sua idade não permitem estar no quadro activo, mas permanecem no quadro honorário, sendo uma mais-valia para os corpos de Bombeiros, principalmente a nível de formação, transmitindo conhecimentos adquiridos durante décadas aos novos estagiários, mas cada vez mais a estrutura dos bombeiros ignora esse poço de sabedoria e de conhecimentos colocando-os de parte em todas as áreas.

Fénix
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